sábado, 6 de abril de 2013

Less than One, de Joseph Brodsky


Estou lendo Less than One, coletânea de ensaios de Joseph Brodsky. Comprei o livro por causa de um texto maravilhoso, A Commencement Address, cuja tradução publiquei aqui.

No primeiro ensaio, que dá título à coletânea, podemos ler este parágrafo, que traduzo a seguir:

I guess there was always some “me” inside that small and, later, somewhat bigger shell around which “everything” was happening. Inside that shell the entity which one calls “I” never changed and never stopped watching what was going on outside. I am not trying to hint at pearls inside. What I am saying is that the passage of time does not much affect that entity. To get a low grade, to operate a milling machine, to be beaten up at an interrogation, or to lecture on Callimachus in a classroom is essentially the same. This is what makes one feel a bit astonished when one grows up and finds oneself tackling the tasks that are supposed to be handled by grownups. The dissatisfaction of a child with his parents’ control over him and the panic of an adult confronting a responsibility are of the same nature. One is neither of these figures; one is perhaps less than “one”.

Acho que sempre existe alguma parte de “mim” dentro daquela concha pequena e, mais tarde, um pouco maior, em volta da qual “tudo” acontecia. Dentro daquela concha, a entidade que se chama de “eu” nunca mudou e nunca parou de observar o que acontecia do lado de fora. Não estou tentando sugerir que haja pérolas do lado de dentro. O que estou dizendo é que a passagem do tempo não afeta muito aquela entidade. Tirar uma nota baixa, trabalhar com uma fresadora, ser espancado num interrogatório ou dar uma aula sobre Calímaco é essencialmente a mesma coisa. É isso que faz com que as pessoas se sintam um pouco espantadas quando se tornam adultos e se percebem enfrentando tarefas que supostamente são tratadas por adultos. O descontentamento de uma criança com o controle de seus pais e o pânico de um adulto diante de uma responsabilidade são da mesma natureza. Cada um de nós não é nenhuma dessas figuras; cada um é talvez menos que “um”.

2 comentários:

  1. Marcelo, você teve contato com a edição da Brasiliense? É uma boa tradução?

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    1. Mel, não, não conheço a edição da Brasiliense. Tive em mãos a edição da Companhia das Letras, de onde tirei a tradução de A Commencement Address. Eu traduziria esse título como Um Discurso de Formatura, não Um Discurso Inaugural. Mas não tenho mais essa edição, só o livro em inglês.

      Estou devendo posts sobre o restante do livro, que é fantástico. Especialmente tocante é o último texto, A Room and a Half.

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