sábado, 20 de abril de 2013

Profissão de Fé, de Rose Wilder Lane


Se procurarmos na Internet por textos de Rose Wilder Lane, vamos saber que ela escreveu, em 1936, um artigo chamado Credo para a revista The Saturday Evening Post. É uma defesa entusiasmada da liberdade individual contra todas as formas de opressão. Esse artigo foi revisado e ampliado por ela em 1944 e publicado em forma de livro, com o título Give Me Liberty. Podemos encontrar algumas cópias do texto, em formatos diferentes, com os dois títulos. Porém, o texto sempre é o de 1944.

Intrigado com isso, entrei em contato com a revista. The Saturday Evening Post foi fundada em 1728, por Benjamin Franklin, e continua existindo. Responderam que o artigo foi publicado na edição de 7 de maio de 1936, mas não dariam mais informações. Procurei essa edição em sebos e achei um que tinha, no Alabama. Enviaram um exemplar em perfeito estado de conservação; uma revista grande, de 112 páginas pouco menores que uma folha A3, cheia de anúncios de carros (Chevrolet, Buick, Pontiac), refrigeradores, rádios (Philco) e outros produtos (Listerine, Aspirina). E com o texto original de Credo, cuja tradução apresento, com notas indicando as diferenças para a versão de 1944. Em português, chamei Credo de Profissão de Fé, e Give Me Liberty de Quero Liberdade.

O texto não mudou muito. Existem pequenas melhorias estilísticas; algumas ambiguidades foram eliminadas e algumas ideias foram expressas de maneira mais completa. O texto foi enriquecido com uma comparação entre os agricultores da Rússia transcaucasiana, onde Rose visitou uma aldeia comunista, e os colonos de Illinois, uma bela declaração baseada na introdução da Declaração de Independência dos Estados Unidos e provocações a Marx. Algumas narrativas são mais detalhadas, especialmente a da caça aos trustes por William Jennings Bryan.

Há diversas histórias novas em Quero Liberdade que eram apenas sugeridas, ou nem isso, em Profissão de Fé. Por exemplo, aquela em que o carro de Rose quebra na Itália, ou a burocracia na compra de um novelo de lã em Paris, por causa de um decreto de Napoleão. A mais marcante é a da batida policial que Rose acompanhou na Hungria.

Um ponto importante é que, em Profissão de Fé, Rose afirma que a liberdade individual é uma ideia que nunca ocorreu a nenhuma civilização antes do surgimento dos Estados Unidos. Em Quero Liberdade, ela reconhece que a ideia existia como princípio religioso dos judeus, cristãos e muçulmanos. Mas ressalta que nunca havia sido um princípio político.

Mais relevante é uma pequena troca de palavras. Em Profissão de Fé, ela se refere algumas vezes à democracia. Em Quero Liberdade, ela sempre diz liberdade individual. Nesse intervalo de oito anos, Rose percebeu que a democracia, sendo o governo da maioria, poderia não ser garantia suficiente para as minorias e que a menor minoria que existe é o indivíduo.

Existem dois trechos de Profissão de Fé que foram suprimidos em Quero Liberdade. São aqueles em que Rose elogiava alguns serviços públicos dos Estados Unidos, especialmente escolas públicas.

O último capítulo de Profissão de Fé, O Hiato que se Fecha, foi bastante ampliado. Ficamos sabendo muito mais sobre a vida da comunidade rural dos Montes Ozark, próxima à fazenda onde Rose morou por longo tempo.

E o último capítulo de Quero Liberdade é completamente novo, conclamando os americanos a deixarem de lado o conformismo e o pessimismo e passarem para a ação, para defenderem sua liberdade ameaçada.

2 comentários:

  1. Caro Marcelo, colega feiano, foi bom te conhecer e tomar conhecimento das duas obras que você traduziu com qualidade. Gostei deste teu post que explica o processo que você seguiu... parabéns pelo trabalho e pela contribuição para com o liberalismo. Abs

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  2. Caro Marcelo, aprecie o meu Blog em que vc pode encontrar o seguinte post: https://gibacanto.wordpress.com/2020/04/04/pequeno-tratado-de-subversao-da-ordem/

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