sexta-feira, 13 de junho de 2014

O direito de expressar indignação

Desde a abertura da Copa do Mundo, algumas pessoas vem se pronunciando contra a atitude do público. A presidente Dilma Roussef foi vaiada e xingada repetidas vezes durante o jogo Brasil x Croácia.

Em primeiro lugar, quero dizer que planejava vaiar Dilma do sofá da minha casa, quando ela aparecesse. E vaiar também pelo Twitter e pelo Facebook. Ainda guardo com carinho as camisetas que fiz em 2007, para mim e para minha filha, com a inscrição “Eu vaiei o Lula no Pan!”. Foi só pela televisão, mas foi muito bom. Fiquei frustrado porque, na hora em que o locutor anunciou Blatter e Dilma no estádio, todas as emissoras estavam passando comerciais. Depois dizem que “a mídia é golpista e direitista”. Os órgãos de imprensa todos protegem este governo até onde é possível.

As pessoas estão fartas de áulicos. Vemos, por toda parte, gente bajulando o governo. Alguns sendo bem remunerados por isso, com patrocínios do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras, Correios, BNDES, a lista não tem fim. Até a oposição bajula o governo na maior parte do tempo. De vez em quando, eles se lembram de se opor a alguma coisa. Quando é possível acontecer uma manifestação espontânea, como a da abertura da Copa, isso é uma verdadeira catarse, tanto para quem está lá como para quem gostaria de estar.

Às pessoas que reclamaram da falta de educação, pergunto: Já foram a um estádio de futebol alguma vez na vida? Já assistiram a um jogo pela televisão, que seja? Um estádio não é, de forma alguma, um lugar solene. Não é uma sessão do Congresso, não é um convento. O linguajar usado contra Dilma, rude, grosseiro, é o linguajar típico do ambiente em que ela estava. Quem decidiu trazer a Copa do Mundo para o Brasil e tentou capitalizar eleitoralmente o evento foi o governo do PT. Não deu certo; é hora de enfrentar as conseqüências.

Vi gente perguntando por que não vaiam o Alckmin. Céus! Cada vez que alguém critica o PT, é fatal vir esse coro: “Mas e o PSDB”? Gente, o PSDB resolveu trazer a Copa para o Brasil? Alguém viu o secretário estadual dos Esportes falar sobre a “aproximação da idéia da possibilidade” de os estádios ficarem prontos até dezembro de 2013? O Alckmin, por acaso, ocupou uma cadeia de TV para tentar faturar popularidade com a Copa? Foi ele quem disse que ir ao estádio de Metrô é babaquice e que as pessoas iriam até de jumento?

Pelo contrário. O governo do estado foi firme com a absurda greve do Metrô, conseguiu que tudo funcionasse normalmente no dia do jogo e a PM ainda teve de controlar um grupo de visigodos que tentou interromper a Radial Leste. O povo queria vaiar a Dilma mesmo.

Os piores são os que dizem que a manifestação das arquibancadas é ilegítima porque os torcedores são brancos, são paulistas, têm dinheiro para comprar ingressos. Para esses, paulista não tem liberdade de expressão. Branco não é cidadão. Só quem recebe Bolsa-Família deveria ter o direito de ter opinião, quiçá o de votar. Esse argumento é profundamente autoritário.

O governo federal paga, com o nosso dinheiro, uma rede de blogueiros progressistas e militantes do ambiente virtual (MAV), para inundar a Internet de xingamentos e acusações falsas contra os adversários do petismo. E a presidente vem posar de ofendida e relacionar a atitude da torcida à tortura da ditadura militar. Quem a xingou foi o povo, não os torturadores. E se Dilma foi torturada por uma ditadura, e todas as ditaduras são execráveis, isso aconteceu quando ela tentava implantar no Brasil uma ditadura muito pior.

Estamos cansados de mentiras. Estamos cansados do aparelhamento do Estado. Estamos cansados de ver e baderneiros sendo recebidos no palácio. Temos o direito de expressar nossa indignação. O grito contra Dilma e o PT estava entalado na nossa garganta. Viva a vaia!


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