sábado, 17 de setembro de 2016

Cabo Anselmo - Minha verdade, de José Anselmo dos Santos


Algumas vezes nos surpreendemos com o quanto ignoramos fatos básicos da História do Brasil. Foi meu caso com relação a este livro, Cabo Anselmo - Minha verdade. Já tinha ouvido falar do “Cabo Anselmo”, já tinha sem dúvida lido sobre ele, mas ase alguém me perguntasse o que ele fez, não saberia dizer exatamente. E é um personagem fundamental para compreendermos o golpe de 1964 e o Brasil dos anos 60 e 70. Mais que isso, num país democrático, em que não existe a pena de banimento, José Anselmo dos Santos é um não-cidadão, um apátrida, um homem sem direito a uma identidade civil. Embora pague impostos como todos nós, não tem direito aos serviços básicos do Estado, porque não tem nenhum documento.

Anselmo, que nunca teve a patente de cabo, era um jovem inteligente e carismático, de classe média baixa, que precisava ajudar a sustentar a família depois que seu pai faleceu. Entrou na Marinha. Com sua personalidade cativante, foi eleito presidente da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil. No dia 25 de março de 1964, quando a Associação comemorava dois anos de sua fundação, Anselmo leu um discurso escrito por Carlos Marighella, sem compreender o que estava em jogo no Brasil naquele momento. Nem sabia quem era Marighella. Pretendia protestar contra as duras condições a que os militares de baixa patente eram submetidos. Porém, esse discurso foi um dos estopins do golpe militar.

Os marinheiros se declararam em rebelião. Os oficiais mandaram fuzileiros para prendê-los, mas os fuzileiros se juntaram aos amotinados. João Goulart demitiu o ministro da Marinha e anunciou que os revoltosos não seriam punidos.

Anselmo foi preso depois do golpe e conseguiu fugir com ajuda de grupos armados de esquerda. Passou pelo Uruguai e recebeu treinamento em Cuba. Voltou clandestino ao Brasil para participar da luta armada. Em meio a crises de consciência sobre o sentido de sua ação, foi preso e torturado. O delegado Fleury propôs que ele se tornasse um agente duplo. Com a ajuda de Anselmo, um policial se infiltrou no grupo de militantes.

Os militantes desconfiaram de Anselmo e o condenaram à morte (“justiçamento”, na língua deles) em um tribunal revolucionário. O agente infiltrado ficou encarregado de levá-lo até o local de execução. Em vez disso, levou-o para outra cidade. Aqueles que iriam executá-lo foram emboscados pelas autoridades e mortos. Entre eles, Soledad Barret Viedma, namorada de Anselmo, que pretendia ajudar a “justiçá-lo”.

O ex-marinheiro é um homem culto, que aprecia filosofia e literatura. Lê inglês, francês e italiano. Exerceu diversas profissões ao longo de sua vida, tendo trabalhado com assessoria empresarial e treinamento, porém sempre com documentos falsos. Depois da publicação do livro Eu, Cabo Anselmo, de Percival de Souza, foi procurado pela Rede Globo para uma entrevista. Prometeram que sua imagem seria preservada, que sua voz seria distorcida, mas isso não aconteceu e, em conseqüência, ele perdeu todos os seus clientes

Anselmo requereu que lhe seja devolvida sua identidade formal e que ele seja anistiado. A Comissão de Anistia lhe negou a condição de anistiado. Embora tenha havido uma determinação da Justiça para que ele volte a ter documentos, os órgãos responsáveis se recusam a emiti-los, utilizando-se de desculpas burocráticas. A principal dessas desculpas é que não se encontra assento do seu registro de nascimento no cartório em que foi registrado, nem de seu registro de batismo na paróquia em que foi batizado.

Cabo Anselmo - Minha Verdade conta essa história de maneira muito envolvente. O prefácio é de Olavo de Carvalho.

Se você já conhece bem toda essa história, parabéns. Caso contrário, pare o que estiver fazendo e vá comprar e ler Cabo Anselmo - Minha verdade!


Quem é Cabo Anselmo?
Terça Livre, exibido em 22/09/2015, com Ítalo Lorenzon, Beatriz Kicis, Olavo de Carvalho e José Anselmo dos Santos.

Livro: Cabo Anselmo - Minha verdade
Autor: José Anselmo dos Santos
Editora Matrix
256 páginas
1ª Edição - 9 de junho de 2015

Onde comprar:

Amazon
Fnac
Livraria Cultura
Livraria da Folha
Livraria da Travessa
Livraria Saraiva

Um comentário:

  1. Hoje, no Brasil e no mundo, a Esquerda detém o monopólio da cultura. A edição de um livro como esse é fundamental para quebrar essa ditadura da opinião única instaurada pela Esquerda. Parabéns pelo artigo.

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